OSCARS 2023 | AVATAR: O CAMINHO DA ÁGUA (2022) – CRÍTICA

Raquel Oliveira
6 min readDec 20, 2022

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James Cameron dirigiu poucos filmes para o cinema na sua carreira, mas eles foram suficientes para movimentar e revolucionar a indústria cinematográfica ao longo das décadas. Se nos anos 80, o cineasta alavancou a sua carreira com o Exterminador do Futuro, o tornando uma referência na ficção científica e revolução no uso de efeitos especiais, nos anos 90 com Titanic ele recorreu novamente à tecnologia e efeitos práticos na retratação de um dos maiores desastres da humanidade, com um drama romântico no centro. Em 2009, ele chega com Avatar, filme que prometia trazer uma experiência imersiva para o público com a tecnologia 3D no seu auge e capacidade de exploração em todos os sentidos do visual. E ele conseguiu. Desde Avatar, o 3D vem tendo mais aprimoramento e melhores modificações. Sua ambição não parou por aí, o cineasta agora promete efeito 4D (3D sem os óculos), numa experiência bem mais imersiva nos próximos 3 filmes da série.

Por anos, muito se foi falado que Avatar só tem a bilheteria devido ao 3D, que a história é básica e não cativa, que o planeta Pandora e os seres Na’vis não existem. Realmente, é uma história básica, mas acredito que essa última parte seja um tanto injusta. Convenhamos, o cinema é isso. A arte de contar histórias através das imagens, e muitas delas fictícias.

No fim, com uma história simples, há também o propósito que parece simples: o que o James Cameron quer nos propor, é que nós possamos sentar naquela cadeira e abrir nossas mentes para o desconhecido — mesmo que ele não seja real. Mesmo que haja algo que nós como humanos não podemos evitar: o julgamento diante ao que não conhecemos. É de entender então que muitos virem a cara para Avatar, eu virava. Mas existe uma ideia por trás da existência de Pandora e dos Na’vis que me faz ponderar. Afinal, se acreditamos em outras vidas fora da Terra (eu acredito), por que não acreditar que sim, seja altamente plausível que existam seres como os Na’vis na nossa galáxia? Não seria prepotência acreditar que somos sozinhos na galáxia? E que triste seria.

Pandora e seus habitantes é uma história original do cineasta, e com esse montante de riqueza, detalhes, cultura, costumes, língua, seres etc, claro, há muitas lacunas que precisam ser preenchidas. Porque sempre haverá uma diferença em filmes que têm como base um livro e filmes de roteiros originais. Em Avatar: O Caminho da Água, Cameron tem a chance de aprofundar mais a sua Pandora. Jake Sully agora aceito como Na’vi, construiu sua família de 4 filhos junto com Ney’tiri. Mas ao avistar a volta dos humanos, quer fugir da guerra para protegê-los. Condensar esse papel de protagonista e pai ficaria cansativo em uma rodagem de 3h, então Cameron traz para o centro os seus filhos adolescentes. Os garotos jovens estão ainda descobrindo e se deslumbrando com o planeta em que vivem, e é com essa ferramenta que o roteiro traz para tela, todos os avanços que obtivemos ao longo dos últimos 13 anos. No fim, o roteiro só precisa de um motivo ou outro para contar a história e para que esse longa exista, o foco realmente não é o roteiro.

Com isso, Avatar 2 acaba dividindo a opinião, não só do público como também da crítica. Recordo enquanto escrevo esse texto que alguns dias atrás fiz um comentário sobre o audiovisual x roteiro. E no quanto o roteiro precisa do audiovisual para que sua história seja contada. Embora o audiovisual não precise necessariamente de roteiro, porque o nome mesmo até já diz, audio — visual. Logo, as imagens sempre devem ser prioridades. Apesar de que uma das minhas áreas favoritas no cinema seja exatamente um bom roteiro. Então, partindo desse ponto que roteiro neste longa não é sua priori, essa experiência imersiva não poderia ter sido melhor. Tudo em Pandora parece ser real, os Na’vi, inclusive, parecem até mais novos — isso, claro, porque foi possível consertar detalhes com o avanço dos anos.

Mas engana-se que o roteiro não tenha sua relevância neste longa (mesmo que por muitos momentos repita dispositivos narrativos do primeiro), e mesmo que seja fraco. Os vilões têm motivações bobas e os caçadores mostram o pior lado do ser humano, mas novos personagens protagonistas são bem mais carismáticos. E assim como no primeiro, a crítica ao homem que destrói tudo que toca e que quer reivindicar o que não é seu, está lá. A grande propaganda ecológica sobre a preservação do planeta acentua o fato do planeta Terra estar morrendo, o que coloca a pauta em reflexão à nossa realidade.

Mas o espetáculo mesmo fica para as grandes sequências aquáticas. E é nítida nessas sequências o quanto Cameron ama o oceano (claro, ele é um explorador dos fundos oceânicos). Nestes momentos, ele despeja toda sua criatividade e paixão pelo cinema, numa explosão de cores e exploração quase que poética a qual os filhos de Jake Sully passam. Enquanto eles, em tela, se encantam com os animais aquáticos, as cores verdes e cristalinas da água, e o movimento em gracejo do povo Metkayina que tem uma forte ligação com a água, nós nos encantamos igual. Talvez, eu nunca mais vá esquecer um momento de emoção que eu tive exatamente em um desses momentos do longa, em que me senti envolvida e pensei: “O cinema é isso! E eu amo cinema”.

Quantas e quantas vezes já ouvimos e dizemos a expressão que o cinema nos faz viajar através das imagens? Avatar é um desses filmes que só funciona nas telonas. Digo isso porque perdi a chance por duas vezes de ir conferir o primeiro filme nos cinemas, e quando fiz na TV, senti o quanto perdi muitos detalhes. Isso foi o que me fez dar uma avaliação mediana na primeira vez.

Mas hoje vejo o quanto fui um tanto injusta nessa avaliação. Porque ainda que por anos eu tenha sido indiferente quanto ao primeiro filme (antes de rever a história não me cativava tanto), não há mais como ignorar a dedicação, esmero e ambição que é colocada para que essa série de filmes possa ser realizada. O mundo de Pandora é lindo! E não há dúvidas que a série Avatar vai mexer na forma como fazer cinema nos próximos anos. Há um crédito em ver que é possível criar personagens do 0 e esquecer completamente que os atores estão cobertos de CGI, e que tudo que está em tela é carregado de muitas e muitas camadas de efeitos na pós-produção. Hoje, com a minha visão e percepção mais aprimorada sobre essa arte, é um bom sentimento desfrutar de um espetáculo grandioso. É por filmes como esse que falar sobre cinema é atrativo.

⭐⭐⭐⭐

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Raquel Oliveira

CE, Brazil 🌅 | 🎬 Crítica em formação | Falo sobre cinema no https://www.instagram.com/raquelcritics/ | Redes sociais @raquelolivp 📌