OSCARS 2023 | ELVIS (2022 ) – CRÍTICA

Raquel Oliveira
6 min readDec 1, 2022

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Apesar de não serem tão parecidos, Butler capta a persona do artista e me faz questionar; se em 2018 tivemos Rami Malek numa caracterização bem ruim de Freddie Mercury e ainda assim o fez levar o Oscar de Melhor Ator, então em que patamar está o Elvis Presley de Austin Butler? Claro, não é justo comparar os dois, mas há um que realmente conseguiu encarnar seu cantor.

Por: Raquel Oliveira

Elvis Presley é (no tempo presente mesmo) uma persona tão viva na memória das pessoas que até eu, que nunca fui tão fã do artista, ao assistir a essa cinebiografia me peguei surpresa ao saber tantas músicas dele. Justamente por sua grande influência na cultura popular, suas músicas e sua figura terem um impacto tão grande. Com isso, fiquei questionando, será que mais uma cinebiografia de uma pessoa tão grande, imponente, vai dar certo, tendo em vista que ultimamente os longas biográficos não vêm sendo tão aclamados?

A história do considerado rei do rock até os dias de hoje, interpretado pelo até então não tão conhecido Austin Butler, é contada a partir da ótica do seu ex-empresário, Tom Parker, interpretado por Tom Hanks. Essa cinebiografia aborda desde os primeiros momentos que o jovem Presley é descoberto pelo empresário, até a sua ascensão, popularidade e carreira estrondosa.

Sendo dirigido por Baz Luhrmann, digamos que Elvis, o filme, é como uma música de rock. Literalmente. Desde o primeiro minuto com o logotipo da Warner, a intenção do diretor é de nos fazer mergulhar nessa história. E como ele faz isso? Exatamente como falei, seguindo como uma música de rock. A combinação de direção, decupagem, montagem e trilha se unem ao ritmo frenético de uma música. E isso não acontece só nos primeiros momentos, é durante todo o longa. Afinal, numa duração de 2h30, essa foi a forma que o diretor encontrou para não sentirmos tanto a longa duração. É tanta coisa em tela que, ao contrário do que possa pensar ser bagunçado, encanta com as imagens e cores. É bonito de ver e imersivo.

Narrado em terceira pessoa por Tom Parker, que está no seu leito de morte, desorientado após sofrer um AVC e ir parar no hospital, Baz Luhrmann tem liberdade para contar a história sem seguir uma linha do tempo. A não linha cronológica em Elvis talvez seja um dos pontos negativos, mas o longa se permite ser assim. Baz faz questão de mostrar que o antagonista desta história é exatamente quem nos conta. Com esse artifício, pode ser considerado também uma biografia fictícia, afinal, não sabemos se a terceira pessoa está realmente relatando de forma verídica. E aqui, pouco se fala completamente sobre a vida pessoal de Elvis, numa também contrapartida habitual do que é feita em biografias que contam a descoberta, ascensão e queda de um artista.

No contexto narrativo assinado também por Baz Luhrmann, o longa através de Tom Parker, opta por prestar homenagem a Elvis, o que abre margem para as polêmicas que acompanham até os dias de hoje a sua carreira, que são as controvérsias do filme. Como não fã de Elvis, não irei conseguir pautar todas as polêmicas, mas uma das que vira e mexe na cultura pop, seria a que o cantor teria se apropriado da cultura negra em uma época que os Estados Unidos vivia a segregação racial, para compor não apenas seu estilo musical, como também sua performance no palco. Isso é pautado no longa para afim de reflexão.

O roteiro e o diretor preferem não criticar que o cantor, criado e crescido em Memphis, Tennessee, e frequentado constantemente a rua Beale Street — considerado o hall da fama da música negra –, tenha se apropriado. Mas também não ignora o fato da forte influência da cultura negra na vida de Elvis. Em uma das pesquisas que fiz, li que, pelo menos naquela época, o cantor não teve críticas vindo de muitas personalidades negras do blues, ao contrário, diversos deles como B. B. King (que aparece como amigo de Elvis) o adorava, embora na vida real não fossem tão amigos, mas ambos se respeitavam. O longa, porém, reforça o respeito de Elvis às suas influências e aos pioneiros do blues, gospel, r&b… Sendo muitos deles negros.

Outro ponto é o fato de Elvis nunca ter tido posicionamentos políticos e sociais na época, em um período que o país era muito dividido pela segregação e acontecimentos que viriam a ser históricos. Quando contado sob a perspectiva de Tom Parker, ele mesmo assume que fazia o possível para distanciar Elvis desses posicionamentos. E isso realmente acontecia, assim como, Tom sempre tentou distanciar Elvis de suas raízes. Tom Parker via o cantor como sua mina de ouro e também a garantia da sua liberdade, já que vivia ilegalmente nos EUA, e até então ninguém sabia disso. E apesar de ser uma biografia sobre Elvis Presley, Tom Parker aparece muito, o que também traz uma controvérsia, visto que o empresário polêmico era controlador e acusado de roubar boa parte da fortuna do cantor.

Uma pena que Tom Hanks não consegue manter o personagem. Por muito durante o longa não dá para desassociar que na verdade é o ator Tom Hanks carregado de próteses e maquiagens. O sotaque não favorece e o personagem parece bem caricato.

Completamente diferente de Austin Butler. Que encarna Elvis de maneira tão esplêndida, que chega um determinado momento do longa o qual abraçamos a ideia que Butler é o cantor. Apesar de não serem tão parecidos, Butler capta a persona do artista e me faz questionar; se em 2018 tivemos Rami Malek numa caracterização bem ruim de Freddie Mercury e ainda assim o fez levar o Oscar de Melhor Ator, então em que patamar está o Elvis Presley de Austin Butler? Claro, não é justo comparar os dois, mas há um que realmente conseguiu encarnar seu cantor. Butler vai do olhar, o cabelo, até os movimentos de dança no palco, numa entrega apaixonante pelo seu trabalho.

É por causa de Austin Butler que conseguimos ter uma percepção a qual Baz Luhrmann quer contar: que Elvis Presley foi o herói da sua carreira. É curioso que o filme consiga transmitir isso mesmo que tenha exageros. Mas, por ser Elvis Presley, um grande performer talentoso, frenético, caloroso que permitiu essas excentricidades serem parte da obra. Permite também a passagem do fanatismo do público diante a uma figura tão ímpar da sua época, como mostrado na primeira vez que Tom Parker encontra o artista, numa sequência que seria digna de Cinema, com C maiúsculo mesmo. É tanta coisa acontecendo nessa sequência que chega a atordoar — da maneira mais positiva possível.

É bonito ver também o cuidado que o diretor teve com a figura de Elvis tanto para introduzi-lo como para dar o desfecho. Se no começo, o artista demora a aparecer, numa espécie de suspense imposto tanto para o espectador como para o empresário que narra a história, o final opta por não deixar que a imagem do cantor falecido, que viveu tanto sua carreira, seja a última que temos de Elvis Presley. Tanto que ignora o fato de que a dependência química tenha sido um dos fatores que o tenha levado à morte. Pelo menos aqui, o longa mantém a sua homenagem até o fim, com o cantor indo mais alto e longe, realizando o seu sonho, o qual confessou em um momento que seria a virada a chave de sua vida. Elvis, o filme, é frenético e não nos dá um descanso, mas é encantador.

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Raquel Oliveira

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