SUCCESSION (2018-PRESENTE) SÉRIE – CRÍTICA

Raquel Oliveira
7 min readOct 11, 2022

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Succession é uma tragédia shakespeariana dos nossos dias atuais, as ambições e traições são o gás necessário para fazê-la ser excepcional.

Por: Raquel Oliveira

Quando Succession estreou lá em 2018 na HBO, foi uma estreia tímida. O mundo ainda tinha os olhos voltados para Game of Thrones, que estava se caminhando para sua última temporada. Embora à época GOT estivesse na boca do povo, bastou mais alguns episódios de Succession para demonstrar que a série não veio para ser esquecida. Criada pelo britânico Jesse Armstrong, em 2019 já foi indicada a Série do Ano e venceu Melhor Roteiro em Série Dramática por “Nobody Is Ever Missing”, o décimo episódio da primeira temporada. Daí em diante, Succession passou a ter mais atenção à sua volta, venceu Melhor Série Dramática em 2020 pela segunda temporada e em 2022 repetiu a dose pela terceira temporada.

A escalada de sucesso de Succession é merecida e faz jus ao montante de indicações e prêmios que acumula em apenas três temporadas. Pela força da narrativa com personagens fortes e bem escritos através de um roteiro espetacular.

A família Roy é dona do quinto maior conglomerado de mídia do mundo, a Waystar Royco. A empresa é um negócio de família e o patriarca Logan Roy completa 80 anos. Espera-se que ele se aposente e anuncie o novo CEO e seu sucessor. Tudo indica que pode ser um dos seus quatro filhos. Acontece que, Logan não dá o braço a torcer, e os Roy, ridiculamente ricos, não se dão muito bem um com o outro. É em meio a essa tensão que Succession se desenrola numa rede de muitos esquemas, manipulação e intrigas familiares para conquistar o topo. Se concentrando principalmente na construção dos seus personagens.

A primeira metade do primeiro ano da série se concentra em apresentar seus personagens. E através dos olhos do novato Greg (Nicholas Braun), temos Logan (Brian Cox) que construiu um império, e é um homem altamente rude que se acha mais poderoso até mesmo que o presidente. Kendall Roy (Jeremy Strong), o segundo filho mais velho de Logan é visto como o sucessor do seu pai. Isso deixa explícito no primeiro episódio, quando Kendall acerta um negócio importante para a empresa. Mas ele tem um passado com drogas, o que é um fator a se pontuar. Connor Roy (Alan Ruck) é o filho mais velho, ele não aparece tanto. Siobhan Roy (Sarah Snook), a única filha mulher de Logan, não trabalha com o pai. É uma mulher inteligente e consultora política, que mesmo que diga tentar se distanciar dos negócios da família, está sempre à espreita. E Ronan Roy (Kieran Culkin), o mais novo e também o mais irresponsável que carrega o estereótipo de milionário fanfarrão. Estas são as quatro figuras que aparecem mais, mas o trunfo de Succession está além desses personagens. Está nos coadjuvantes que também movem a narrativa no universo que Armstrong cria: um mundo satírico capitalista de milionários ostensivos. Todos aqui são detestáveis, e é incrivelmente por esse fator, que a série é fascinante.

Nesta crítica, irei pontuar um ponto específico de cada temporada, os momentos que foram o ápice da série para mim.

A primeira temporada.

Os arcos de Succession são bem trabalhados, um evento vai levando ao outro. Isso faz a trama se mover rapidamente e seus personagens vão sempre seguindo em frente. Em um determinado momento, Kendall conspira armar uma reunião com o voto de desconfiança entre os acionistas da empresa para derrubar seu pai. Nisso, uma teia de intrigas se desenrola, e Kendall, no alto da sua arrogância, se esquece que é pupilo de Logan, que está sempre há um passo à frente. Então, quando Kendall parte em busca de um dos votos, um imprevisto acontece e ele não consegue voltar a tempo para a reunião. Mesmo sendo uma solução fácil do roteiro; o não embate dos dois, o que é nos mostrado em tela é como a trama consegue mexer bem com seus personagens. Quando todos os acionistas que estavam inclinados a tender para o lado de Kendall se veem sem ele, apenas com Logan em presença, todos se sentem acuados e intimidados com a presença do CEO. E tudo se volta contra Kendall. Mais tarde, para fechar, Logan recebe uma ligação do presidente da república e o deixa esperando na linha por alguns minutos, em uma total mostra de se achar e estar superior ao presidente.

Segunda temporada.

Os resultados de eventos importantes que aconteceram no final da primeira temporada são verdadeiras reviravoltas. Novos investidores da Waystar estão comprometendo a posição de Logan diante do controle da empresa. Para trazer mais seus filhos para perto, ele promete a Shiv uma ambição e traz Roman ainda mais para debaixo da sua asa. Logo mais à frente da temporada, o patriarca dos Roy está determinado em mostrar que ainda é capaz de comandar seu conglomerado no auge dos seus 80 anos. Com a saúde perfeita, para retomar o controle ele decide investir numa empresa jornalística considerada “incomparável” e que é completamente o oposto das ideologias da Waystar Royco, mas que também está com problemas financeiros. Acontece que as manobras e reuniões para adquirir essa empresa se tornam também caprichos de Logan. Pois a empresa é comandada por uma mulher e tem controle feminino. Logan, que é um completo machista e não esconde isso, está determinado em adquirir a empresa para mostrar que é o poderoso, porém, um escândalo sexual envolvendo antigos funcionários da Waystar e que foram acobertados por Tom (Matthew Macfadyen), marido de Shiv, abalam as negociações. A segunda temporada enfoca numa conduta que é praticamente unânime em empresas de grande porte na vida real. Um mundo controlado por homens que estremece com os movimentos feministas e causas sociais tomam espaço. É nesta temporada que Shiv começa a aparecer mais e a relação com seu pai toma proporções.

Terceira temporada.

Cada vez melhor, a terceira temporada segue o enfoque no escândalo sexual envolvendo a Waystar. E Logan está disposto a prejudicar a quem for para se safar e salvar a empresa, nem que para isso ele use Shiv. Que por ser a sua única filha mulher, pode aliviar as tensões. O patriarca usa e manipula as pessoas ao seu redor e todos estão cientes disso, mas claro, todos não são boas pessoas, todos têm interesses próprios e ambições. Nesta rede de manobras, artifícios e maquinações, a família Roy também começa a se dividir. Quando chega ao seu final de temporada, mais reviravoltas acontecem.

Succession é uma tragédia shakespeariana dos nossos dias atuais, as ambições e traições são o gás necessário para fazê-la ser excepcional. Apesar de ser uma sátira do mundo corporativo e do meio do entretenimento, e mostrar uma família explicitamente podre de rica ostentando, comprando e usando pessoas como descartáveis, também não deixa de traçar paralelos com a realidade. Principalmente quando aborda o meio capitalista, dinheiro e política. A Waystar Royco, da família Roy, remete muito a empresas multibilionárias como a Disney, por exemplo, que para ampliar ainda mais o seu poderio e influência, compra estúdios, e então os sufocam para se adequarem a sua filosofia, tornando assim forçar o meio do entretenimento a ser um padrão. O que é prejudicial.

A série conta com recursos das técnicas de câmera na mão, zoom e closes em seus personagens para envolver mais o espectador, com isso ela coloca o espectador dentro do ambiente, como um observador. Nada escapa das lentes da câmera, logo, nada escapa de nossos olhos. Logan e os quatro filhos canalizam todos aos seus redores, mas o trabalho que é feito com os coadjuvantes elevam o nível da série em uma excelência deliciosa de assistir. São eles que, ao estarem também envolvidos na mesma teia de uma família podre de bilionária e disfuncional, também querem tirar uma casquinha do poder.

E assim nenhum escapa em Succession, todos são detestáveis, já comentei isso, mas é ao criar estes personagens desta maneira que Jesse Armstrong consegue reunir todos os elementos de um bom drama. Em Succession, qualquer um pode se virar contra o outro e puxar o seu tapete. Todos estão sedentos e dispostos a ter poder. Quanto mais bilionários eles ficam, piores de caráter também. A busca pelo poder move as pessoas, move o mundo.

⭐⭐⭐⭐⭐

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Raquel Oliveira

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